Carménère: tudo que você precisa saber sobre o vinho e a uva!
- Redator
- 27 de set. de 2024
- 6 min de leitura
Oriunda da espécie de videira chamada Vitis vinifera, a Carménère é uma uva tinta conhecida pela sua semelhança com a célebre Merlot.

De modo geral, os frutos de Carménère são medianos, possuem coloração azulada intensa, e casca relativamente fina.
Além disso, quando jovens, as folhas das videiras de Carménère apresentam tonalidade avermelhada. Inclusive, acredita-se que a uva tenha ganhado o nome “Carménère” por este motivo, em alusão à cor carmim que a planta adquire durante seu ciclo de vida.
Há quem defenda, também, que o nome tenha surgido por conta da tonalidade da casca da uva ao longo de seu desenvolvimento.
Origem da uva Carménère
A uva Carménère é de origem francesa, especificamente da região do Médoc, em Bordeaux.
Durante o século XVIII, a casta foi relevante para produção de vinhos nessa região, especialmente em união com a uva Cabernet Franc.
Isso aconteceu até o século XIX, quando na década de 1860 a praga filoxera acidentalmente chegou ao continente e devastou vinhedos por toda a Europa.
As vinhas de Carménère, que já são naturalmente suscetíveis à praga filoxera, não resistiram à infestação. Por esse motivo, ao longo de muitos anos, a uva foi dada como extinta.
Acontece que, antes da filoxera atacar os vinhedos europeus, algumas mudas da casta já haviam sido levadas para as Américas, especialmente para o Chile. O curioso é que, durante essa migração, a Carménère foi confundida com a uva Merlot.
Como já mencionamos antes, ambas são muito parecidas. A semelhança se dá tanto no formato e aparência das uvas quanto das folhas em algumas fases do ciclo de vida da vinha.
Por isso, a Carménère foi cultivada e usada na produção de vinho durante muitos anos como se fosse a Merlot..
Somente em 1994 que esse erro foi descoberto. E então foi confirmado que algumas vinhas chilenas que a princípio eram caracterizadas como Merlot na verdade eram Carménère.
Essa revelação foi feita pelo ampelógrafo francês Jean-Michel Boursiquot. Ele foi ao Chile para participar do Congresso Sul-Americano de Viticultura e Enologia em 24 de novembro de 1994. Ao visitar alguns vinhedos locais, percebeu que algumas das videiras identificadas como Merlot eram Carménère.
Posteriormente, testes de DNA comprovaram essa afirmação. A partir dessa descoberta, os produtores chilenos continuaram apostando na produção de vinhos Carménère. O primeiro rótulo varietal elaborado após essa situação foi lançado em 1996.
Por esses motivos, o Chile ficou conhecido como o país vinícola que salvou essa variedade da extinção. Essa história também foi incorporada ao apelo comercial dos vinhos.
Depois disso, a Carménère também retornou à sua terra natal. Apesar de não ser amplamente cultivada na França hoje em dia, ela ainda aparece em alguns vinhos, especialmente os de Bordeaux.
Além de eventualmente compor o célebre corte bordalês — um típico vinho regional da França —, a casta comumente é vista em blends no Velho Mundo.
Lembrando que blend é a mistura de diferentes porções de vinho referentes a safras, uvas, extrações de prensa ou fases de maturação.
Dito isso, é muito habitual encontrar vinhos que, além da Carménère, levam consigo a Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, entre outras uvas.
Principais características da uva Carménère
Como comentamos no início do artigo, os frutos de Carménère são médios, têm cor intensa, e casca relativamente fina.
Tendo isso em mente, é preciso lembrar que, apesar dessas características, a personalidade dos vinhos Carménère dependem muito da região vinícola em que o rótulo será produzido.
De um modo geral, as características sensoriais que você encontrará ao degustar um Carménère são:
Acidez: média/alta
Tanino: médio
Fruta: média/alta
Corpo: médio
Álcool: médio/alto
Em se tratando do Velho Mundo, a Carménère não é amplamente cultivada. Na França, por exemplo, a casta aparece em blends elaborados em Bordeaux, em apelações como Médoc e Margaux.
Tais rótulos franceses geralmente apresentam estrutura sedosa, elegante, boa acidez, e frescor agradável em boca. No nariz, notas de frutas vermelhas e nuances de especiarias.
Além da França, a uva também aparece em algumas regiões vinícolas da Itália, como Friuli, por exemplo. Lá, os blends se mostram bem estruturados, com taninos firmes, além de aromas e sabores de frutas vermelhas e especiarias.
Porém, é no Chile que a Carménère fez morada. Em terras chilenas, a uva dá vida a vinhos elegantes, aveludados, sedosos e marcantes em boca. No nariz, o destaque são as notas intensas de frutas pretas maduras, como ameixas e cerejas, além de pimenta preta, pimentão, e toques herbáceos.
Mas afinal, você sabe o por que a Carménère se tornou a rainha do Chile? Confira a seguir.
Carménère: o vinho chileno por excelência

Assim como a ilustre Malbec, a Carménère é uma das uvas que encontrou na América Latina as condições ideais para se desenvolver. Dessa forma, origina algumas de suas melhores expressões, especialmente no Chile. Isso acontece por conta das características das regiões vinícolas chilenas. Algumas delas são:
A vasta quantidade de microclimas espalhados pelo país, que originam vinhos únicos em diferentes territórios;
O clima majoritariamente mediterrânico, que favorece o desenvolvimento e maturação da uva por conta dos invernos mais curtos, chuvas concentradas, e verões secos e ensolarados;
A variedade de solos, que aportará às vinhas e aos frutos diferentes tipos de nutrientes.
Além disso, dois grandes fatores que influenciam as atividades vitivinícolas do Chile são o oceano Pacífico e a Cordilheira dos Andes.
O oceano Pacífico contribui com correntes marítimas que resfriam os vinhedos próximos ao litoral. Já a cadeia de montanhas da Cordilheira dos Andes forma uma proteção natural para as vinhas, que além de manter o ar frio que desce das encostas, também dificulta a chegada de pragas, como a filoxera.
Inclusive, este fato também contribuiu para que a Carménère sobrevivesse no país enquanto a filoxera destruiu vinhedos europeus.
A união de todos esses motivos propiciam as condições perfeitas para o desenvolvimento da Carménère. O resultado são vinhos que agradam paladares mundo afora.
Como harmonizar vinhos Carménère?

Chegamos em uma das melhores partes: a harmonização! E o vinho Carménère combina com o que? Confira algumas dicas de como combinar o seu vinho com diferentes tipos de comida.
Se a pedida da vez for pratos à base de carnes vermelhas, o ideal é optar por cortes bovinos pouco gordurosos, como filé mignon, por exemplo. Algumas sugestões de receitas são: ensopado de carne, porco assado à cubana, e cordeiro assado com hortelã.
Agora, no caso de carnes brancas, é ideal que elas sejam preparadas com temperos mais fortes ou molhos pesados, para que o vinho não “roube” o sabor da refeição.
Lembra que os vinhos Carménère costumam ter notas herbáceas? Saiba que rótulos com essas características combinam com pimentões recheados, bolinho de lentilha assado, feijão fradinho com linguiça, e chilli mexicano com nachos, por exemplo.
Além disso, pode apostar em comidas com temperos regados a pimenta-do-reino, orégano, cebolinha, cominho, coentro, tomilho, limão e alho.
No caso dos queijos, algumas opções para a harmonização são: Muçarela, Parmesão, Feta, Monterey Jack, e Cotija.
Por fim, é importante ter em mente que você sempre pode (e deve!) testar diversas harmonizações, com diversas expressões da uva. Desta forma, além de aumentar o seu repertório, vai descobrir qual estilo de vinho e prato mais agradam o seu paladar.
Curiosidades sobre a uva e o vinho Carménère
Agora que você já sabe mais sobre a história da Carménère, suas características, e como harmonizar os vinhos produzidos por meio dessa uva, confira algumas curiosidades:
Estudos de DNA comprovaram que as castas Carménère, Cabernet Sauvignon e Merlot descendem da uva Cabernet Franc;
Na região vinícola de Ningxia, no centro-norte da China, a Carménère é conhecida como Cabernet Gernischt;
No Velho Mundo, a Carménère já foi conhecida como Grand Vidure;
Além do Chile (país que mais cultiva a uva) e da França (que a cultiva em menor quantidade), alguns outros países em que a Carménère está presente são: Argentina, Itália, Brasil, Estados Unidos, China, México e Macedônia do Norte;
A Carménère também foi encontrada na cidade de Matakana, na Nova Zelândia. Lá, a casta havia sido confundida com a Cabernet Franc;
Variedade que amadurece tardiamente em comparação com outras uvas, a Carménère precisa de muita luz solar e verões quentes para expressar por completo seu potencial;
A pirazina, composto orgânico presente em diversas variedades de plantas, é a responsável pelos aromas de pimentão nos vinhos Carménère, especialmente os chilenos;
A pronúncia de “Carménère” é “car-men-ner”.
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Artigo maravilhoso!!!